A CAIXA MÁGICA
Quando era estudante na UFLA, lá pelos idos de 2001, um professor contou-me esta historinha que julgo ser salutar e edificante:
Um fazendeiro reclamava que sua propriedade nada produzia. Só dava prejuízos e muitas dores de cabeça. Angustiado, vivia culpando o governo, o tempo, a falta de chuvas, os seus empregados, enfim, tudo e todos, pela sua situação desesperadora.
Um dia, um amigo indicou-lhe um sábio que, talvez, o ajudasse a resolver seus problemas. Apesar de um tanto cético, o fazendeiro acabou cedendo aos argumentos do amigo e foi conversar com aquele homem.
Chegou
onde o sábio habitava. Contou-lhe todas as suas dificuldades, todos os seus
tormentos com aquela fazenda que só dava prejuízo. O sábio nada dizia; mas pela
conversa daquele sujeito, ele já sabia, o que fazer.
Foi até seu escritório e de lá trouxe uma caixa de madeira. Uma caixinha pequena, simples e comum. O sábio lhe disse que era uma caixa mágica, que iria resolver todos os seus problemas. Deu-a ao fazendeiro com a seguinte recomendação: ele deveria, todos os dias, ir com ela pelos quatro cantos de sua fazenda. De manhã, iria para o norte, à tarde para o sul; no outro dia, para o leste, e assim por diante. Dentro de um ano ele deveria retornar para lhe relatar o que havia acontecido.
O fazendeiro pegou a caixa e, meio desconfiado e descrente, voltou para sua fazenda.
No dia seguinte, começou a fazer o que o sábio havia indicado. Saiu com aquela caixa debaixo do braço e rumou para o norte, onde havia um imenso pasto para roçar. Ao ver aquele pasto tomado pela erva daninha, deu ordens aos seus empregados para irem lá e começar a roçá-lo. E assim foi feito.
À tarde, ele caminhou para o sul, onde estava plantado um cafezal muito grande, mas sem os devidos tratos culturais. Ao ver aquele cafezal tão desmazelado, ordenou aos seus empregados que tomassem as providências. E assim, também, foi feito.
E todos os dias, ele seguia uma direção diferente e sempre achava alguma coisa para fazer, para colocar em ordem. Tratava de consertar o mais rápido que podia. Passou a dedicar mais de seu tempo à fazenda. E não via as horas passarem. E sempre com aquela caixa mágica debaixo do braço.
Depois de um ano, a fazenda tinha um novo aspecto. Havia melhorado sua produção e já começava a sair do vermelho. O proprietário ficou espantado: meu Deus, esta caixa é realmente mágica!
Como havia combinado, retornou à casa do sábio. Quando lá chegou, começou a contar-lhe o que acontecera: a fazenda estava indo bem. Disse que desejava ficar com aquela caixa mágica. Pagaria o preço que custasse. O sábio pôs-se rir e respondeu-lhe:
-
Meu caro, esta caixa não é mágica. É tão comum como outra qualquer. O que fiz
foi apenas alertá-lo para que tomasse conta de suas coisas e que liderasse seus
subordinados. Apenas isto. Nada vem fácil. Toda conquista tem seus custos.
Apenas quando queremos fazer, podemos melhorar.”
2010
TODOS SOMOS IMPORTANTES
Havia
uma grande discussão na carpintaria. As ferramentas estavam discutindo para
saber qual delas era a mais importante. O Martelo foi o primeiro a falar:
A Plaina não permaneceu calada:
- Esta é boa! Sou eu a mais importante! Sou eu quem dá o acabamento e as feições à madeira!
O Serrote protestou:
- E se esquecem de mim? Quem é que corta a madeira bruta, deixando-a pronta para que possam trabalhar nela? Sou eu! Logo, sou o mais importante!
A Verruma também falou:
- Ora! Quem faz os buracos, um trabalho muito mais difícil e complicado!
Os pregos e os parafusos protestavam em coro:
- Para que serviriam vocês se não juntássemos as peças de madeira?
Foi a vez da Régua:
- Eu sou a precisão, o exato! Sou a mais importante!
Estavam nisto, quando o Carpinteiro de Nazaré entrou na carpintaria para fazer um púlpito. Separou a madeira, a serrou; mediu-a; a cortou; aplainou-a; escolheu os pregos e os parafusos necessários, fez os orifícios para colocar os parafusos e por fim pregou as partes que iriam formar a obra. Trabalho encerrado e obra feita, pôs-se a contemplar sua criação.
As ferramentas nada disseram, pois estavam muito envergonhadas. Todas haviam participado daquela obra; logo nenhuma era mais importante do que outra. Todas tinham importância, todas eram essenciais, pois se uma delas faltasse, a conclusão daquela obra seria impossível.
Assim também somos nós: todos nós somos importantes, pois temos talentos e dons. Somos “ferramentas” que o Grande Criador utiliza na construção do Bem Comum.
2010
ESCOLHAS...
Uma
professora, querendo ensinar algo mais a seus alunos, fez um dia, o seguinte
teste: perguntou-lhes quem salvariam, se pudessem salvar só uma pessoa de um
grupo de três. Quando os alunos disseram que haviam entendido, ela traçou o
perfil de cada uma:
O primeiro é surdo.
O segundo é paralítico.
O
terceiro é saudável e disciplinado.
Os alunos começaram a rir: oras, a escolha era óbvia. Todos, sem exceção, escolheram a terceira pessoa. Afinal era a escolha da pessoa mais apta, não era?
A professora já antevia a resposta de seus pupilos. Então, olhou para cada um deles e disse-lhes:
- Fizeram a escolha mais lógica. Eu também, a princípio, faria a mesma escolha. Mas vejam bem: cuidado com as suas escolhas!
Os alunos ficaram por entender. A mestra explicou-lhes:
O surdo que vocês deixaram morrer era Ludwig von Beethoven, compositor alemão, um dos mais talentosos músicos que já existiu. Ele compôs grande parte de sua obra praticamente sem ouvir.
O paralítico que vocês rejeitaram foi Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos, um dos maiores líderes que o mundo conheceu. Quando era presidente, enfrentou desafios imensos, mas nunca deixou de acreditar na vitória de seu país, mesmo que estivesse numa cadeira de rodas.
O homem saudável e disciplinado que vocês salvaram foi Adolf Hitler, ditador alemão, que matou milhões de pessoas inocentes.
Silêncio na sala. Os alunos ficaram sem palavras. Haviam aprendido uma lição.
Escolher é difícil. E muitas vezes, a primeira impressão nem sempre é a mais acertada.
O
BAMBUAL
Aquele rei havia subido ao trono muito jovem. Faltava-lhe experiência nos negócios e na política do reino. Dúvidas e indagações o afligiam e era necessário possuir sabedoria para governar. Mas, o que era governar?
Seus ministros, conselheiros e súditos se dividiam entre aqueles que propunham uma política mais progressista e radical e aqueles que defendiam uma postura mais conservadora. Os dois partidos ameaçavam deflagrar uma guerra civil e perpetrar no reino um banho de sangue. Uma situação delicada e difícil para o jovem soberano. Se não governasse, sabiamente, sua cabeça também rolaria.
Um dia, resolveu que conversaria com um mestre. Quem sabe ele o mostrasse como resolver esta terrível questão. Sua resposta seria decisiva.
O mestre o recebeu com grande alegria, pois, soube, desde o início, que aquele jovem também era sábio e que precisava apenas de uma orientação para realizar grandes coisas naquele país.
O jovem se aproximou e disse:
- Mestre, desejo governar com sabedoria e justiça, como o fez Salomão. Mas, existem, em meu reino, dois partidos poderosos: o primeiro deseja mudanças e modernidade e o segundo quer manter as tradições. Os dois são muito fortes e podem travar uma terrível guerra civil. Terei que satisfazê-los, mas, como? Julgo esta missão impossível!
O mestre olhou para aquele jovem, levantou-se e pediu que o acompanhasse. Ele o seguiu e foram até a janela. Lá fora, na mata, havia um grande bambual.
O vento batia naqueles bambus, fazia-os ruflar e sacudir, indo para lá e para cá. Então, o mestre falou:
- Observe estes bambus. São balouçados pelo vento, mas não se quebram!
Acompanham o movimento do vento, “dançam” com ele; contudo, suas bases estão fixas, bem presas ao solo, imóveis. Muitas árvores caem nas tempestades e tormentas, mas um bambual cair é muito difícil. Eles conseguem unir o dinâmico com o estático, o mutável com o imutável: um exemplo de estabilidade. Aprenda com a natureza: saiba se adaptar aos novos tempos, mas procure manter os seus valores intactos.
O jovem rei entendeu a ideia do mestre.
Voltou ao seu reino e procurou governar com justiça e sabedoria. O reino se modernizou e se desenvolveu, todavia, não foram esquecidas as suas tradições. O rei granjeou o apoio dos dois partidos que apoiaram sua política até o fim.
“A política é a doutrina do possível”. Bismarck
“Governar é saber administrar esperanças”. Bernardino Teixeira