terça-feira, 11 de junho de 2024

A CAIXA MÁGICA

Quando era estudante na UFLA, lá pelos idos de 2001, um professor contou-me esta historinha que julgo ser salutar e edificante:

Um fazendeiro reclamava que sua propriedade nada produzia. Só dava prejuízos e muitas dores de cabeça. Angustiado, vivia culpando o governo, o tempo, a falta de chuvas, os seus empregados, enfim, tudo e todos, pela sua situação desesperadora.

Um dia, um amigo indicou-lhe um sábio que, talvez, o ajudasse a resolver seus problemas. Apesar de um tanto cético, o fazendeiro acabou cedendo aos argumentos do amigo e foi conversar com aquele homem. 

Chegou onde o sábio habitava. Contou-lhe todas as suas dificuldades, todos os seus tormentos com aquela fazenda que só dava prejuízo. O sábio nada dizia; mas pela conversa daquele sujeito, ele já sabia, o que fazer.

Foi até seu escritório e de lá trouxe uma caixa de madeira. Uma caixinha pequena, simples e comum. O sábio lhe disse que era uma caixa mágica, que iria resolver todos os seus problemas. Deu-a ao fazendeiro com a seguinte recomendação: ele deveria, todos os dias, ir com ela pelos quatro cantos de sua fazenda. De manhã, iria para o norte, à tarde para o sul; no outro dia, para o leste, e assim por diante. Dentro de um ano ele deveria retornar para lhe relatar o que havia acontecido.

O fazendeiro pegou a caixa e, meio desconfiado e descrente, voltou para sua fazenda.

No dia seguinte, começou a fazer o que o sábio havia indicado. Saiu com aquela caixa debaixo do braço e rumou para o norte, onde havia um imenso pasto para roçar. Ao ver aquele pasto tomado pela erva daninha, deu ordens aos seus empregados para irem lá e começar a roçá-lo. E assim foi feito.

À tarde, ele caminhou para o sul, onde estava plantado um cafezal muito grande, mas sem os devidos tratos culturais. Ao ver aquele cafezal tão desmazelado, ordenou aos seus empregados que tomassem as providências. E assim, também, foi feito.

E todos os dias, ele seguia uma direção diferente e sempre achava alguma coisa para fazer, para colocar em ordem. Tratava de consertar o mais rápido que podia. Passou a dedicar mais de seu tempo à fazenda. E não via as horas passarem. E sempre com aquela caixa mágica debaixo do braço.

Depois de um ano, a fazenda tinha um novo aspecto. Havia melhorado sua produção e já começava a sair do vermelho. O proprietário ficou espantado: meu Deus, esta caixa é realmente mágica!

Como havia combinado, retornou à casa do sábio. Quando lá chegou, começou a contar-lhe o que acontecera: a fazenda estava indo bem. Disse que desejava ficar com aquela caixa mágica. Pagaria o preço que custasse. O sábio pôs-se rir e respondeu-lhe: 

- Meu caro, esta caixa não é mágica. É tão comum como outra qualquer. O que fiz foi apenas alertá-lo para que tomasse conta de suas coisas e que liderasse seus subordinados. Apenas isto. Nada vem fácil. Toda conquista tem seus custos. Apenas quando queremos fazer, podemos melhorar.”

 Como diriam os antigos, em sua inestimável sapiência: “é o olho do dono que engorda o boi”.

2010

 

TODOS SOMOS IMPORTANTES

Havia uma grande discussão na carpintaria. As ferramentas estavam discutindo para saber qual delas era a mais importante. O Martelo foi o primeiro a falar:

 - Sou o mais importante de todos! Sem mim como seriam batidos os pregos para segurar a madeira?

A Plaina não permaneceu calada:

- Esta é boa! Sou eu a mais importante! Sou eu quem dá o acabamento e as feições à madeira!

O Serrote protestou:

- E se esquecem de mim? Quem é que corta a madeira bruta, deixando-a pronta para que possam trabalhar nela? Sou eu! Logo, sou o mais importante!

A Verruma também falou:

- Ora! Quem faz os buracos, um trabalho muito mais difícil e complicado!

Os pregos e os parafusos protestavam em coro:

- Para que serviriam vocês se não juntássemos as peças de madeira?

Foi a vez da Régua:

- Eu sou a precisão, o exato! Sou a mais importante!

Estavam nisto, quando o Carpinteiro de Nazaré entrou na carpintaria para fazer um púlpito. Separou a madeira, a serrou; mediu-a; a cortou; aplainou-a; escolheu os pregos e os parafusos necessários, fez os orifícios para colocar os parafusos e por fim pregou as partes que iriam formar a obra. Trabalho encerrado e obra feita, pôs-se a contemplar sua criação.

As ferramentas nada disseram, pois estavam muito envergonhadas. Todas haviam participado daquela obra; logo nenhuma era mais importante do que outra. Todas tinham importância, todas eram essenciais, pois se uma delas faltasse, a conclusão daquela obra seria impossível.

Assim também somos nós: todos nós somos importantes, pois temos talentos e dons. Somos “ferramentas” que o Grande Criador utiliza na construção do Bem Comum.

2010


ESCOLHAS...

Uma professora, querendo ensinar algo mais a seus alunos, fez um dia, o seguinte teste: perguntou-lhes quem salvariam, se pudessem salvar só uma pessoa de um grupo de três. Quando os alunos disseram que haviam entendido, ela traçou o perfil de cada uma:

O primeiro é surdo.

O segundo é paralítico.

O terceiro é saudável e disciplinado.

Os alunos começaram a rir: oras, a escolha era óbvia. Todos, sem exceção, escolheram a terceira pessoa. Afinal era a escolha da pessoa mais apta, não era?

A professora já antevia a resposta de seus pupilos. Então, olhou para cada um deles e disse-lhes:

- Fizeram a escolha mais lógica. Eu também, a princípio, faria a mesma escolha. Mas vejam bem: cuidado com as suas escolhas!

Os alunos ficaram por entender. A mestra explicou-lhes:

O surdo que vocês deixaram morrer era Ludwig von Beethoven, compositor alemão, um dos mais talentosos músicos que já existiu. Ele compôs grande parte de sua obra praticamente sem ouvir.

O paralítico que vocês rejeitaram foi Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos, um dos maiores líderes que o mundo conheceu. Quando era presidente, enfrentou desafios imensos, mas nunca deixou de acreditar na vitória de seu país, mesmo que estivesse numa cadeira de rodas.

O homem saudável e disciplinado que vocês salvaram foi Adolf Hitler, ditador alemão, que matou milhões de pessoas inocentes.

Silêncio na sala. Os alunos ficaram sem palavras. Haviam aprendido uma lição.

Escolher é difícil. E muitas vezes, a primeira impressão nem sempre é a mais acertada.

2010 


O BAMBUAL

Aquele rei havia subido ao trono muito jovem. Faltava-lhe experiência nos negócios e na política do reino. Dúvidas e indagações o afligiam e era necessário possuir sabedoria para governar. Mas, o que era governar?

Seus ministros, conselheiros e súditos se dividiam entre aqueles que propunham uma política mais progressista e radical e aqueles que defendiam uma postura mais conservadora. Os dois partidos ameaçavam deflagrar uma guerra civil e perpetrar no reino um banho de sangue. Uma situação delicada e difícil para o jovem soberano. Se não governasse, sabiamente, sua cabeça também rolaria.

Um dia, resolveu que conversaria com um mestre. Quem sabe ele o mostrasse como resolver esta terrível questão. Sua resposta seria decisiva.

O mestre o recebeu com grande alegria, pois, soube, desde o início, que aquele jovem também era sábio e que precisava apenas de uma orientação para realizar grandes coisas naquele país.

O jovem se aproximou e disse:

- Mestre, desejo governar com sabedoria e justiça, como o fez Salomão. Mas, existem, em meu reino, dois partidos poderosos: o primeiro deseja mudanças e modernidade e o segundo quer manter as tradições. Os dois são muito fortes e podem travar uma terrível guerra civil. Terei que satisfazê-los, mas, como? Julgo esta missão impossível!

O mestre olhou para aquele jovem, levantou-se e pediu que o acompanhasse. Ele o seguiu e foram até a janela. Lá fora, na mata, havia um grande bambual.

O vento batia naqueles bambus, fazia-os ruflar e sacudir, indo para lá e para cá. Então, o mestre falou:

- Observe estes bambus. São balouçados pelo vento, mas não se quebram!

Acompanham o movimento do vento, “dançam” com ele; contudo, suas bases estão fixas, bem presas ao solo, imóveis. Muitas árvores caem nas tempestades e tormentas, mas um bambual cair é muito difícil. Eles conseguem unir o dinâmico com o estático, o mutável com o imutável: um exemplo de estabilidade. Aprenda com a natureza: saiba se adaptar aos novos tempos, mas procure manter os seus valores intactos.

O jovem rei entendeu a ideia do mestre.

Voltou ao seu reino e procurou governar com justiça e sabedoria. O reino se modernizou e se desenvolveu, todavia, não foram esquecidas as suas tradições. O rei granjeou o apoio dos dois partidos que apoiaram sua política até o fim.

“A política é a doutrina do possível”. Bismarck

“Governar é saber administrar esperanças”. Bernardino Teixeira

 2010


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